Viajar a dois pode ser um gesto de afeto, liberdade e afirmação. Para casais de homens gays, escolher países que combinam boas leis de proteção, vida cultural vibrante e infraestrutura turística acolhedora faz toda a diferença entre uma experiência meramente turística e uma jornada de pertencimento. Diversos indicadores internacionais ajudam a separar percepções de marketing de realidades no terreno: o Rainbow Map da ILGA-Europe, que avalia políticas e leis de países europeus, e o Spartacus Gay Travel Index, que ranqueia destinos do mundo todo, são bússolas úteis para entender onde direitos estão mais consolidados e onde a hospitalidade se traduz em segurança e visibilidade cotidiana. Em 2025, Canadá, Malta, Espanha, Portugal e Islândia figuram no topo do índice da Spartacus; na Europa, o mapa da ILGA-Europe segue mostrando avanços e também lacunas entre vizinhos, lembrando que nem todo cartão-postal é sinônimo de igualdade plena.
Espanha permanece entre os destinos mais desejados, em parte por uma combinação rara: legislação avançada, grandes eventos e um turismo urbano e de praia que acolhe sem cerimônia. O Madrid Orgullo, conhecido como MADO, reivindica anualmente o posto de maior celebração do Orgulho da Europa, com milhões de pessoas nas ruas e uma programação que ocupa bairros centrais como Chueca e grandes praças. Para casais, a cidade oferece desde hotéis e restaurantes assumidamente LGBTQIA+ friendly até museus de classe mundial e uma vida noturna que vai do pop ao techno. Barcelona, Valência e o eixo mediterrâneo somam praias, cultura e gastronomia de tapas a vinhos naturais. Da militância às festas, a mensagem é clara: visibilidade sem pedir licença.
Portugal, por sua vez, consolida-se como queridinho internacional, combinando segurança, custo relativamente acessível e uma cultura que acolhe com discrição. Lisboa e o Bairro Alto funcionam como porta de entrada, mas o leque é amplo: o Porto com sua cena gastronômica, o Alentejo para roteiros de vinho e praias selvagens, os Açores e a Madeira para natureza exuberante. No plano dos direitos, o país tem casamento igualitário, adoção por casais do mesmo sexo e proteção contra discriminação, o que reduz ruídos do cotidiano, de check-ins de hotel à mera circulação de mãos dadas. A fotogenia de calçadas portuguesas e miradouros rende lembranças — e fotos — em ritmo de fado moderno.
Malta é um caso exemplar de como um país pequeno pode liderar grandes mudanças. O arquipélago mediterrâneo não só tem casamento e adoção iguais como foi pioneiro em proibir cirurgias não necessárias em crianças intersexo e em fortalecer proteções antidiscriminação. Na prática, isso se reflete em serviços públicos sensíveis à diversidade e num turismo que, embora sazonal, sabe receber com profissionalismo. Valletta, com suas muralhas de pedra dourada, contrasta com calas de água turquesa e festas que duram o verão inteiro. Para casais, é destino de descanso ativo: mergulhos, passeios de barco, cozinha mediterrânea e uma história que atravessa ordens religiosas e impérios — sem abrir mão do presente igualitário.
A Holanda dispensa apresentações: foi o primeiro país do mundo a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2001, e Amsterdã faz do próprio tecido urbano um palco de celebração. A Canal Parade, quando barcos coloridos desfilam pelos canais, é um cartão-postal que corre o planeta; fora da temporada, a cidade oferece museus, cafés, ciclovias e uma rede de hotéis e bares onde a pauta LGBTQIA+ é parte da normalidade, não apenas de nichos. Roterdã e Utrecht ampliam o mapa com arquitetura contemporânea e vida cultural menos saturada do que a capital. A cortesia holandesa — direta, prática, igualitária — costuma combinar bem com casais que buscam autonomia e vida ao ar livre.
O Canadá conjuga amplitude territorial com políticas públicas consistentes. Da costa do Pacífico a Quebec, a celebração da diversidade é um valor de Estado, reiterado inclusive na comunicação oficial do governo durante a “Pride Season”. Toronto abriga um dos maiores desfiles do mundo e, para casais, a cidade entrega gastronomia multicultural, galerias e bairros como Church-Wellesley Village. Vancouver, entre montanhas e mar, é ideal para quem quer misturar trilhas e vida urbana; Montreal, com seu francês charmoso, acrescenta festivais e uma noite que atravessa o verão. Em qualquer desses pontos, casais de homens gays caminham com tranquilidade, usufruem de serviços e encontram programações específicas o ano inteiro.
A Islândia, que apareceu entre as líderes do Spartacus em 2025, é um convite a quem quer paisagens dramáticas sem abrir mão de direitos. O país legalizou o casamento igualitário em 2010 e tem histórico de liderança diversa, incluindo a primeira chefe de governo abertamente gay do mundo. Reykjavik concentra bares, cafés e o desfile do Orgulho, mas o roteiro a dois pede estrada: banhos termais, caminhadas entre cachoeiras, praias de areia negra e a chance de ver auroras boreais em temporada. É um destino de intimidade em meio ao deserto de lava, onde a hospitalidade é discreta e eficaz.
A Nova Zelândia soma natureza cinematográfica, cultura maori e um marco jurídico sólido — casamento e adoção desde 2013, com proibições a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero já desde os anos 1990. Para casais, Auckland oferece vida urbana, vinícolas em Waiheke e cafés à beira-mar; Wellington concentra museus e uma cena gastronômica criativa; Queenstown é a meca de esportes e hotéis boutique com vistas para lagos e picos nevados. O país também ficou famoso como destino onde estrangeiros viajaram para se casar antes de seus países aprovarem a igualdade — uma celebração que até hoje rende pacotes e experiências sob medida.
Na América Latina, a Argentina despontou cedo ao aprovar o casamento igualitário em 2010, e Buenos Aires não tardou a transformar direitos em cultura viva. A cena de milongas queer recupera o tango como expressão de pares de qualquer gênero e orienta visitantes para aulas e bailes inclusivos, enquanto Palermo, San Telmo e Villa Crespo concentram bares, cafés e design. Fora da capital, Mendoza oferece vinhos e hotéis com vista para os Andes; Bariloche traz lagos e neve; Ushuaia vende o apelo do “fim do mundo” com cruzeiros e trilhas. A diversidade, aqui, se manifesta também no sotaque, no mate compartilhado e numa energia urbana que mistura vanguarda e nostalgia.
Do outro lado do Atlântico, a África do Sul é um farol no continente: foi o primeiro país africano a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e inclui proteção contra discriminação por orientação sexual na própria Constituição. Cape Town, com Table Mountain ao fundo, praias, vinícolas em Stellenbosch e uma cena gastronômica em ebulição, costuma ser a base para casais. Johannesburg oferece arte, história e vida noturna; a rota dos safáris, por sua vez, prova que luxo e natureza podem conviver com respeito à diversidade quando operadores são bem escolhidos. A temporada do Orgulho em Cape Town reforça a visibilidade, enquanto a infraestrutura turística professionaliza a experiência.
Por fim, Taiwan é a história de uma conquista que ressoou em toda a Ásia: desde 2019, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal, e Taipei abriga o maior desfile do leste asiático, com público que facilmente ultrapassou a marca de cem mil pessoas. Para casais, a capital oferece mercados noturnos, templos e cafés, além de uma rede de transporte que facilita circulações espontâneas — algo valioso em viagem a dois. Kenting e Hualien ampliam o roteiro com praias e parques nacionais, e a cena cultural contemporânea vem abrindo espaços de arte, design e moda onde turistas LGBTQIA+ se sentem parte da cidade, não apenas visitantes pontuais.
A escolha dos destinos passa, claro, por preferências pessoais — praia ou museu, trilha ou balada, silêncio ou multidões —, mas também por indicadores de segurança jurídica e social. Em linhas gerais, países com casamento igualitário, leis claras contra discriminação e eventos públicos estruturados tendem a oferecer experiências mais lineares para casais de homens gays, desde o check-in em hotéis até o tratamento em restaurantes e atrações. É o caso de Espanha e Portugal no Mediterrâneo ocidental; Malta no centro do Mare Nostrum; Holanda no coração do Benelux; Islândia no Atlântico Norte; Canadá e Nova Zelândia, referências em políticas públicas; Argentina como pioneira latino-americana; e Taiwan como vanguarda asiática. Mesmo nesses lugares, convém checar calendários de Orgulho, festivais e feriados para ajustar logística e orçamento — e lembrar que alta temporada pode significar preços e multidões mais intensos, ao passo que meia-estação oferece clima ameno e filas menores. As ferramentas de comparação de destinos — de guias oficiais a índices como o Spartacus — ajudam a alinhar expectativas com o que cada país entrega hoje.
Em termos de “o que fazer”, a lista é tão diversa quanto os casais. Em Madrid, viver a semana do MADO e desbravar o Prado e o Reina Sofía explica por que a cidade se tornou sinônimo de celebração; em Lisboa, cruzar o Tejo até Cacilhas e emendar com miradouros ao pôr do sol cria memórias de cinema; em Valletta, alternar banhos de mar com ruazinhas de pedra reconta a história de uma ilha que abraçou o contemporâneo sem renegar tradições; em Amsterdã, assistir à Canal Parade ou simplesmente pedalar sem roteiro escancara uma cidade em que a diversidade flui. No Canadá, Toronto faz da própria rua uma festa e Vancouver transforma trilhas em experiências de casal; Reykjavik serve como base para auroras e estradas que pareceram filmadas por sci-fi; na Nova Zelândia, vinícolas, fiordes e picos nevados cabem em uma mesma semana. Buenos Aires ensina a dançar de novo — de mãos dadas —, e Taiwan mostra como modernidade urbana e espiritualidade templária podem conviver na mesma esquina.
A cena de Orgulho também funciona como termômetro do espaço público. Em Berlim — que poderia facilmente integrar qualquer top 10 —, a Christopher Street Day toma a cidade com techno e reivindicação; em Toronto, a parada ocupa o centro com multidões; em Taipei, o desfile cresce ano após ano, renovando o fôlego das lutas asiáticas. Para quem viaja a dois, esses grandes eventos podem ser o ápice emocional da viagem, mas também exigem planejamento de hospedagem e deslocamento. Em períodos fora da festa, a mesma cidade revela camadas mais íntimas: cafés de bairro, saunas, galerias independentes, parques para piqueniques, praias discretas — a viagem a dois encontra seu próprio ritmo.
No fim, o melhor destino para casais de homens gays é aquele que equilibra direitos no papel e respeito nas ruas. Espanha, Portugal, Malta, Holanda, Canadá, Islândia, Nova Zelândia, Argentina, África do Sul e Taiwan oferecem esse mix, cada qual com sua assinatura: do hedonismo urbano à contemplação natural, da euforia das paradas ao silêncio de hotéis boutique com vista. Em comum, a certeza de que o amor não precisa pedir licença — e que viajar pode ser, também, um jeito de reafirmar quem se é, de mãos dadas, na direção do próximo horizonte.